quinta-feira, 24 de março de 2016

Síndrome de Asperger e Mercado de Trabalho








   Há empresas a fazer recrutamento especializado de pessoas com esta perturbação do espetro do autismo. A tendência está a chegar a Portugal.


   Nem sempre os reconhecemos na rua, mas podemos ter uma ideia do seu mundo interno através do Zé- o jovem com a Síndrome de Asperger (SA) da novela da SIC- ou do mais novo dos filhos da família Braveman, na série Parenthood, onde os atores dão corpo e rosto a quem vive com esta perturbação do espetro do autismo.
   O facto de terem comportamentos repetitivos, dificuldades em interagir socialmente, ou um discurso diferente ou rigidez de pensamento, não impede os diagnosticados com a síndrome de serem adultos felizes e autónomos. As revisões recentes na classificação da perturbação levaram várias associações a questionar se se trata realmente de uma patologia ou se pode ser enquadrada no contexto de neurodiversidade ( como se refere um artigo recente da revista THE NEW YORKER).
   Na prática, alguns empresários que foram pais de crianças com a síndrome tomaram consciência do seu potencial criativo. Enquanto adultos, muitos deles tornaram-se capazes de ocupar altos cargos sem que as suas particularidades sociais façam a menor diferença.
   A ONG dinamarquesa Specialisterne, fundada por Thorkill Sonne, foi a primeira no mundo a investir na inserção profissional de pessoas com Asperger. Seguiu-se a Alemanha, onde a empresa tecnológica Auticon tem dois terços do pessoal diagnosticados no espetro autista a exercer funções de consultoria. Há três anos, no mesmo país a SAP AG também começou a recrutar com bons resultados na eliminação de falhas de software de gestão: não espanta, por isso, que a meta seja atingir um total de 650 efetivos até 2020. Em abril do ano passado, a Microsoft oficializou um programa-piloto com o mesmo fim
   Recursos humanos com este perfil não têm défices cognitivos nem de linguagem e podem apresentar capacidades intelectuais acima da média. Chamam-lhes "aspies", ou autistas de alto nível, e o seu futuro avizinha-se promissor, sobretudo na área da programação e em funções que exigem pontualidade e gestão de detalhes.




     PEQUENAS VITÓRIAS




   "São pessoas com um sentido de humor peculiar e capacidades específicas, que aos outros parecem estranhas, mas com capacidades reflexivas distintas e picos de talento, com uma capacidade de foco acima da média", esclarece Patrícia de Sousa, diretora técnica do projeto Casa Grande, em Lisboa, criado há dois anos para acompanhar jovens diagnosticados com SA em programas de empregabilidade.
   Os 27 que aqui são acompanhados beneficiam de tutoria e aprendem competências em ambiente profissional real. Se comparado com o que se faz lá fora, a resposta da Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger (ASPA) é uma gota no oceano, mas Patrícia de Sousa orgulha-se do que já foi conseguido. "Temos protocolos com a REN, a Quinta d'Avó (fábrica de produtos gourmet), o Arquivo de Lisboa e a Accenture, só para citar algumas." Porém, ainda há muito a fazer, confessa a psicóloga da ASPA, já que o envolvimento das empresas ainda se encontra numa fase embrionária:" Temos contactos com a Microsoft Portugal e o nosso grupo clínico colabora com vários centros de neurodesenvolvimento, com a intenção de fazer um levantamento de estímulos perturbadores do ambiente de trabalho (casos do open space) e sugerir alterações que sejam viáveis."


A mudança terá de que passar, também, pela sociedade, ainda pouco informada sobre como é estar na pele de uma pessoa com Asperger.


   Estima-se que existam 40 mil portugueses com a Síndrome de Asperger, na maioria rapazes.




  




O Cantinho Dos Autistas


Créditos: Artigo retirado da revista Visão 1202

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